“Para quem tem uma vida cheia de máscaras, o Halloween só serve de atalho” (autor desconhecido)
No camaleão a mudança de cor exerce importante papel na comunicação e permite a camuflagem para se proteger de seus predadores
Este comportamento, por analogia, é praticado sistematicamente por muitas pessoas por entender que para sobreviver na “selva” do mundo corporativo é preciso, sistematicamente, adaptar-se, flexibilizar, mudar de opinião sempre que as circunstâncias assim o exigirem; ou, em resumo fazer o que os outros querem ou esperam.
Esconder emoções, abandonar convicções, ocultar/omitir fatos e atividades é uma constante no dia-a-dia de muitos profissionais que acreditam que assim estão se protegendo de seus “predadores”. São ações que de forma consciente ou inconsciente, ensaiadas ou não, visam transmitir uma impressão idealizada por outros e, assim, blindar-se dentro das organizações.
Executivos e muitos profissionais, de maneira geral, dispõem de um kit de máscaras que lhes permite atuar e representar perfeitamente o papel requerido em situações várias: de interagir com chefes ou com pares/subordinados, da exultação advinda de uma meta atingida à demonstração de fúria quando de uma pequena falha. Para cada mascara um comportamento compatível tal qual a mudança de cor no camaleão.
Muitos consultores, mentores e orientadores de carreira entendem e estimulam a representação como o caminho mais adequado para a “sobrevivência” no ambiente corporativo. Estará isto correto?
Certamente que não; mesmo que esta estratégia venha a produzir algum efeito no curto prazo. Ela é insustentável ao longo da vida e isto vale para todos os relacionamentos sejam pessoais ou profissionais. As pessoas são diferentes em sua essência, todas têm o seu valor, os seus recursos e limitações e não podem e não devem viver permanentemente sob o império do julgamento; além do que, pessoas diferentes tem suas ações governadas por seus valores que não necessariamente são os mesmos de outras. Portanto, devemos, primeiramente e sistematicamente, nos abster de julgar da mesma forma que opiniões e julgamentos alheios não devem nortear o nosso comportamento.
Lembro-me de uma história contada por um colunista de um jornal de New York que caminhava com um amigo pelas ruas da cidade quando este amigo parou em uma banca de jornais e, educadamente pediu um jornal e o jornaleiro, então, de uma forma grosseira e mal educada, atirou o jornal em sua direção; o seu amigo então sorriu e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro e quando perguntado pelo amigo se este era o tratamento padrão que recebia do jornaleiro ele respondeu que sim. Mas então por que você o trata tão bem? A resposta foi: porque não é ele quem deve decidir como eu devo agir.
O crescimento pessoal e profissional é determinado, principalmente, pelo relacionamento e interação com outras pessoas. O que pensarão e como irão reagir aqueles que se relacionam com pessoas imprevisíveis e que em cada situação mostram uma faceta (máscara) diferente. Relacionamentos dependem de comunicação – e as pessoas devem mostrar quem são, o que pensam, o que sentem, seus medos, seus desejos e esperanças e só assim podem atingir patamares mais elevados na vida e na carreira. Ou como disse certa vez Charles Chaplin, o eterno Carlitos “Creio que não se pode fazer nada de grande na vida se não fizer representar o personagem que existe dentro de cada um de nós”
Infelizmente, muitos de nós ainda agimos como o veleiro ao sabor do vento e das ondas do mar pois não temos lastro suficiente para segurar ao forças dos ventos e a agitação provocada pelas ondas. Ao contrário, em todas as situações, devemos ser autênticos e não nos dobrarmos a cada vento que sopra e, muito menos, ficarmos à mercê de coisas sem importâncias ou significado ou à opinião alheia.
Segundo um provérbio chinês “somente os tolos exigem a perfeição – os sábios se contentam com a coerência”. Ou, ainda, recorrendo à filosofia: “Todas as pessoas devem esforçar-se para seguir o que é certo e não o que está estabelecido” (Platão).
A pergunta agora é: seriam os conceitos da Inteligência Emocional conflitantes com tudo o que foi dito acima?
A resposta é não. Saber como lidar com as pessoas e entendê-las em seus bons e maus momentos e evoluir no controle emocional é uma das atitudes mais eficientes que levam ao caminho do sucesso. De acordo com Daniel Goleman, as competências que compõem a Inteligência emocional são: (1- Autoconsciência (reconhecer as próprias emoções); (2- Autorregulação (lidar com as próprias emoções); (3- Automotivação (motivar e manter-se motivado) e, finalmente, (4- Empatia (perspectiva dos outros).
Coerência é a chave para esta discussão: é preciso encontrar sempre o perfeito equilíbrio entre preservar a nossa essência e nossos valores e, assim, manter a face sem nenhuma máscara e, por outro lado, entender e respeitar a conduta e as posições de todos aqueles – independentemente da situação ou do cargo/posição – ao nosso redor.